Os investidores americanos do grupo Summit Agricultural Group e seus parceiros brasileiros estão na contagem regressiva para a coroação de um grande projeto de investimentos no Brasil. Está em fase final a construção de uma usina de etanol, que será inaugurada em julho. Com investimento de US$ 115 milhões (mais de R$ 350 milhões), a unidade terá capacidade para produzir 200 milhões de litros de etanol de milho por ano.
Para investir no Brasil, o grupo americano criou a empresa FS Bioenergia. Trata-se de uma joint-venture em parceria com a Fiagril, uma originadora de grãos brasileira com sede em Lucas do Rio Verde (MT). De acordo com o CEO da FS Bioenergia, Henrique Ubrig, a empresa já conseguiu comprar 120 mil toneladas de milho na região, volume de matéria-prima suficiente para atender a demanda da usina por dois meses. “Temos um grupo de compradores operando, que já fez um mapeamento completo dos produtores da região”, afirma Henrique Ubrig.
Cada tonelada de milho processada pela usina vai gerar 420 litros de etanol. Entre os subprodutos, essa mesma tonelada de milho resultará na produção de 320 toneladas de farelo (135 toneladas alta fibra, 80 toneladas de farelo úmido e 105 toneladas de alta proteína) e cerca de 40 litros de óleo de milho.
De acordo com Ubrig, a produção de etanol de milho é economicamente viável por duas razões: a farta oferta de matéria-prima na região da usina e a logística facilitada. “Estamos numa situação privilegiada. Aqui temos capacidade elevada de produção de milho e enormes excedentes, por um valor econômico”, afirma Ubrig. “O segredo é o milho e a logística. Se a gente não tivesse essa abundância de milho aqui, o etanol não seria viável”.
Armazenar para produzir o ano inteiro
Para produzir etanol de cana-de-açúcar, a cana precisa ser processada em 24 horas após a colheita e tradicionalmente as usinas registram paralisações durante a entressafra. Diferentemente dessa rotina, a usina da FS Bioenergia tem a vantagem de poder estocar o milho. Com isso, terá matéria-prima disponível e será capaz de produzir etanol o ano inteiro.
A empresa já possui dois armazéns localizados no complexo industrial, que somam uma capacidade estática de 120 mil toneladas. Além disso, a empresa pretende contar com armazéns terceirizados para estocar cerca de 50 mil toneladas adicionais de milho.
Outro detalhe é que a empresa planeja comprar a matéria-prima com antecedência. “Estamos precavidos. Vamos aumentar bastante o nosso nível de estoques de tal maneira que na passagem do ano vamos passar com estoques cheios e só teremos compras de milho spot ocasionais”, afirma o CEO.
Fornecimento de milho
O grupo pretende comprar milho apenas de produtores de Mato Grosso, de preferência com fazendas localizadas num raio de até 100 quilômetros de distância da usina. “Temos certeza que o milho será regional e, na medida do possível, vamos comprar diretamente dos produtores”, afirma Ubrig, que continua: “O mercado primário é o ideal. Comprar do produtor significa ter uma melhor condição de negociação, entrega e qualidade”.
De acordo com o CEO da FS Bioenergia, o grupo pretende firmar parcerias com produtores para o fornecimento de milho e prevê concentrar o fechamento de compras especialmente entre maio e junho. “Parcerias são bem-vindas. Isso traz vantagens para nós e esperamos que seja bom para o produtor também”, diz Ubrig. “Quanto mais lealdade no sistema, melhor. Queremos uma boa convivência que vá nos dar perpetuidade”.
Para se tornar um fornecedor da FS Bioenergia, o requisito será apenas oferecer um produto de qualidade, com lavouras localizadas na região de Lucas do Rio Verde. “Vamos aceitar o milho básico standard. Inicialmente, não vamos avaliar a procedência”, afirma Ubrig. “O milho precisa estar em condições adequadas de umidade e sem contaminação. O rigor vai ser o mesmo do milho para exportação”.
Nicho de mercado
Segundo Ubrig, a empresa não tem intenção alguma de competir com o mercado de etanol produzido a partir da cana-de-açúcar. “A indústria de cana está absolutamente consolidada, ela é dominante e vai continuar crescendo. Nós não vamos competir com o etanol da cana, vamos coexistir”, diz Ubrig. “Não vamos mandar o nosso produto para o Sudeste, que já é abastecido pela produção de etanol de cana de São Paulo e Minas Gerais”.
De acordo com o CEO, a estratégia da companhia é conquistar o seu próprio mercado. O plano inicial é vender o etanol de milho na região Norte do Brasil, que demanda etanol e não é atendido pelo setor sucroenergético. “Cerca de um milhão de litros de etanol de milho são importados dos Estados Unidos por ano. Vamos atender a região Norte e competir com o etanol importado”, conta Ubrig.
A produção anual será de 200 milhões de litros de etanol, mas a empresa já prevê que há muito espaço para expandir a atividade. “O nosso objetivo é avançar, com prudência”, afirma o CEO da FS Bioenergia.
Subprodutos
Além da produção de etanol hidratado e anidro, a usina também vai gerar ingredientes valiosos para a indústria de alimentação animal. Um deles é chamado de “alta proteína”, um subproduto do etanol de milho nutritivo que é indicado para a alimentação de aves e suínos. Outro subproduto é a “alta fibra”, recomentada para a nutrição de bovinos. Há ainda o “farelo úmido” e o óleo de milho que resultam desse processo industrial.
A FS Bioenergia já criou marcas comerciais para os subprodutos e está negociando parcerias para a comercialização. Elas são a SF Essencial (alta proteína), FS Ouro (alta fibra) e SF Úmido (farelo úmido). O óleo de milho, por sua vez, será destinado à fabricação de biodiesel, em uma fábrica da Fiagril localizada também em Lucas do Rio Verde.
Fonte: https://www.novacana.com/n/etanol/alternativas/usina-etanol-milho-mato-grosso-estoque-materia-prima-150217/