A chave para essa empolgação das usinas depende essencialmente do desenvolvimento de uma tecnologia chamada célula de combustível, uma opção que compete diretamente com as baterias elétricas. Estas duas alternativas prometem aposentar os motores à combustão, plenamente estabelecidos no mercado.
Acompanhar atentamente o desenvolvimento destas tecnologias passa a ser fundamental para as usinas que estão de olho no longo prazo. Neste sentido, a KPMG possui uma equipe direcionada em várias partes do mundo para estudar o mercado automobilístico.
No mais recente trabalho da consultoria sobre o assunto, os analistas evidenciaram os sinais de uma revolução em diversas áreas no setor automobilístico, que deve, inclusive, tornar obsoleto o modelo de carro e combustíveis atual.
Com a pressão gerada pelas novas tecnologias agitando o mercado, a KPMG realizou uma ampla pesquisa com os principais executivos da indústria automobilística. Um dos objetivos foi entender como estes estão vendo a revolução que se desenha e como essa opinião diverge da avaliação dos técnicos da KPMG.
Na 18ª edição da pesquisa anual, a consultoria entrevistou quase mil executivos seniores das maiores empresas automobilísticas do mundo, incluindo montadoras, revendedores, fabricantes de peças e locadoras de carros. Ou seja, empresas diretamente envolvidas no atual modelo de negócio. O Brasil, com 70 executivos, foi o segundo país que mais contribuiu para a pesquisa. Os EUA foi o primeiro, com 83 executivos.
A primeira constatação é que a maioria dos profissionais acredita que os carros elétricos com bateria são a principal tendência do mercado para os próximos oito anos, seguidos de perto pela conectividade e digitalização. Em terceiro aparece a esperança do setor sucroenergético: a célula de combustível.
Porém, mesmo a célula de combustível aparecendo atrás das baterias elétricas, o setor automotivo aposta que o carro elétrico vai falhar em razão dos desafios de infraestrutura (62% dos entrevistados concordaram inteiramente ou parcialmente com este ponto). A verdadeira revolução na mobilidade elétrica, na aposta de 78% dos entrevistados, acontecerá por causa das células a combustível.
Entretanto, os analistas da KPMG não pegaram leve com essa visão da indústria e repetiram três vezes ao longo do estudo a declaração do consultor John Leech, com uma carreira de 24 anos. “A razão pela qual estes executivos estão acreditando nas células de combustível pode ser o forte apego deles à atual infraestrutura e suas aplicações em veículos tradicionais”, afirma e completa: “Os executivos estão hesitantes em relação à cooperação e aos desafios não resolvidos de infraestrutura”.
Já os 70 executivos do Brasil ouvidos pela KPMG, embora esperançosos, possuem uma visão menos otimista em relação às células a combustível como tendência até 2025. A opção aparece apenas na sétima posição das onze listadas.
A KPMG reforça ainda mais sua posição otimista em relação aos elétricos em detrimento da célula de combustível no gráfico abaixo:
Etanol. Elétrico. Combustão.
Apesar da posição crítica da KPMG em relação à célula de combustível, os analistas oferecem uma visão bastante favorável para o mercado de carros elétricos no médio prazo (até 2023) que, no caso brasileiro, pode ser estendida para o etanol.
Eles acreditam que, nos próximos anos, haverá uma pressão legislativa por parte dos governos com adoção de medidas que limitem as emissões de CO2 dos veículos. Para evidenciar esse ponto, os analistas consideraram que a produção de carros com motor a combustão dará lugar a alternativas mais limpas, como os elétricos.
A aposta da KPMG é que, na disputa entre elétricos e motores a combustão, as montadoras de todo o mundo acabarão escolhendo cada vez mais produzir veículos elétricos: de 4% em 2016 para até 30% em 2023. Assim, projeta a consultoria, essa será a primeira vez na história em que os veículos a combustão terão uma queda significativa de produção.
Como o motivador dessa migração é a redução nas emissões de CO2, o etanol de cana-de-açúcar aparece como uma opção favorável para o Brasil. A transição para uma matriz veicular mais limpa pode proporcionar – em território nacional – uma vida mais longa aos veículos à combustão, graças ao etanol.
Com o lançamento do RenovaBio, a aposta do governo brasileiro parece estar focada nesta direção: estimular um combustível limpo, não veículos elétricos. Embora no longo prazo o elétrico possa se mostrar mais vantajoso, até lá o etanol aparece como a melhor opção de transição.
Fonte: https://www.novacana.com/n/combate/carro-eletrico/kpmg-carro-celula-combustivel-apego-forte-infraestrutura-210217/