Com uma participação nacional na geração de energia de biomassa inferior a 10%, a estrutura produtiva do Estado permite avanços bem maiores.
"O Centro-Oeste é uma caixa de força", diz Plinio Nastari, da Datagro, consultoria especializada em agronegócio. E isso vai permitir uma grande realocação agroindustrial para a região, principalmente para Mato Grosso, segundo ele.
O potencial do Estado na geração de energias alternativas é incontestável, mas a concretização desse setor passa pela necessidade de adoção de políticas públicas.
Esse é o consenso geral de participantes do primeiro congresso de bioenergia do Estado e do terceiro congresso do setor sucroenergético, realizados pelo Sistema Famato e Aprosoja, em Cuiabá, nesta terça-feira (13). O evento continua nesta quarta (14).
Glauber Silveira diz que sem essas políticas públicas o potencial mato-grossense servirá apenas para o fornecimento de matérias-primas para Estados vizinhos.
Na avaliação dele, em cinco anos, boa parte das usinas do norte de São Paulo, do oeste de Goiás e as de Mato Grosso do Sul serão flex. Ou seja, além da utilização da cana-de-açúcar, vão usar também o milho na produção do etanol.
O aumento de produção de milho em Mato Grosso fará com que as usinas desses Estados vizinhos sejam beneficiárias não só dos preços competitivos do cereal, mas também do bom potencial de energia vinda do bagaço da cana que elas têm. "Sem política para o setor, Mato Grosso não avança" diz ele.
Nastari diz que essa mudança de parte das usinas paulistas pode até ocorrer, mas que Mato Grosso ainda continuará sendo atrativo para a produção de etanol de milho, devido aos confinamentos e à utilização do DDGS (resíduo proteico que sobra da industrialização do milho).
Mas é preciso a busca de equacionamento e carga tributária que traga equilíbrio entre custos e renda compatíveis para o setor de biomassas, afirma Piero Parini, presidente do Sindalcool-MT (sindicato das indústrias sucroalcooleiras do Estado).
O preço dessa energia limpa tem de internalizar os benefícios que o produto está gerando para a sociedade, segundo Nastari. Ele também vê a necessidade de uma regulação para gerar e sustentar investimentos. "Regulação, no entanto, não é intervenção", diz.
O presidente da Datagro acredita em rápido avanço da demanda da energia renovável e destaca a chegada do carro elétrico movido a combustível líquido, um dos projetos de uma empresa japonesa para os próximos três anos.
O carro vai extrair o hidrogênio do etanol e convertê-lo em eletricidade. Com isso, está resolvido o problema da logística do carro elétrico, uma vez que o país tem 35.200 postos que fornecem esse combustível, diz ele. Com um tanque de 30 litros de etanol, a autonomia do veículo será de 600 quilômetros.
A produção de biomassa é uma boa diversificação para o produtor. Etanol de milho, biodiesel de soja, biometano e tantas outras fontes de energia poderão reduzir custos de produção dentro da porteira e dar diversidade e segurança ao produtor em períodos de altos e baixos.
Dados da Datagro indicam que a renda anual por hectare com na cadeia do boi é de R$ 1.093, abaixo dos R$ 3.459 com a soja e ainda mais abaixo dos R$ 10.256 provindos da cana. A diversificação, além de dar mais oportunidades para a produção de energias renováveis, traz uma renda diferenciada.
Para Décio Gazzoni, pesquisador da Embrapa, o mundo está aprendendo a consumir energia. Cresce a eficiência energética e isso favorece a busca por energias renováveis. Além disso, a China é uma grande investidora nas diversas opções de energia, barateando os custos ano a ano.
Luiz Fernando Marinho Nunes, presidente da Petrobras Biocombustíveis, também destaca a necessidade de políticas públicas voltadas para direitos assegurados ou reconhecimento da importância desse bem pela sociedade.
Quanto à Petrobras Biocombustível, ele diz que esse não é o momento de priorizar investimentos, mas o de encontrar rentabilidade para os que já existem.
O biodiesel é um dos destaques entre os combustíveis renováveis. Com 77% do produto vindo da soja, Mato Grosso, o líder nacional na produção da oleaginosa, deve elevar a participação na produção desse combustível, segundo Donizete Tokarski, diretor-presidente da Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene).
Mauro Zafalon
Fonte: Folha de S. Paulo