A adoção da mistura obrigatória de 10% de etanol à gasolina (E10) em 20 países da Ásia, África e América do Sul – excluindo o Brasil e EUA - demandaria, em tese, um volume adicional de consumo em torno de 36 bilhões de litros de etanol por ano. É o que aponta o trabalho “Programas de Etanol em Países em Desenvolvimento: Perspectivas para as Exportações” feito por Diego de Mendonça Fileni, estudante de Administração e Comércio Internacional da Université Paris Est Creteil (UPEC), após desenvolver pesquisas e acompanhamento das ações da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) na área internacional.
Segundo a metodologia do “carbonômetro” da entidade, a utilização destes 36 bilhões de litros poderia evitar a emissão de mais de 70 milhões de toneladas de CO2 anualmente. “A ideia de trabalhar na UNICA surgiu durante uma pesquisa sobre comércio e políticas para a América Latina. Foi aí que eu descobri a importância estratégica e o pioneirismo do Brasil na produção e comercialização de açúcar e etanol. Achei a ideia do trabalho muito interessante, e com a ajuda e orientação da equipe da UNICA, o trabalho se desenvolveu naturalmente. Ampliei o meu conhecimento sobre o setor sucroenergético e agreguei um ponto de vista aplicado à minha formação acadêmica”, explica o autor.
Para o diretor Executivo da UNICA, Eduardo Leão de Sousa, o estudo traduz, sob uma ótica positiva, a expectativa da indústria de biocombustíveis diante dos esforços globais para se reduzir as emissões de gases de efeito estufa ao longo deste século. Em dezembro de 2015, com objetivo de limitar o aumento da temperatura média da Terra abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, 195 nações apresentaram planos individuais de combate ao aquecimento do planeta. Para formalizar este comprometimento, foi assinado o Acordo de Paris.
“O mundo busca soluções de baixo carbono que sejam cada vez mais baratas e eficientes. O etanol produzido a base de cana-de-açúcar, além de altamente sustentável, é uma alternativa com tecnologia já madura, economicamente viável e disponível, para a substituição ao combustível fóssil, a gasolina. Uma perspectiva que poderá ganhar ainda mais força nos próximos anos, tendo em vista as metas assumidas pelos países na COP21. Sob este aspecto, a análise feita pelo Diego foi muito adequada: focou no E10, uma mistura de fácil implantação e com benefícios ambientais e socioeconômicos de curto prazo”, afirma Eduardo Leão.
Raio-X
De acordo com o levantamento feito pelo estudante da UPEC, dos 20 países analisados com potencial para usar o E10, oito estão na América Latina (Argentina, Colômbia, Costa Rica, Panamá, Paraguai, Uruguai, Peru e México), seis na Ásia (Índia, China, Indonésia, Filipinas, Japão e Tailândia) e o restante na África (Angola, Etiópia, Malaui, Moçambique, África do Sul e Zimbabuê).
E10 asiático
Os asiáticos são os que apresentam a maior perspectiva de consumo do combustível renovável: seriam necessários cerca de 28 bilhões de litros adicionais de etanol para compor 10% dos 270 bilhões de gasolina utilizados anualmente nos países investigados.
O desenvolvimento econômico verificado nesta região – particularmente na porção Ocidental – desde os anos 1990 tem sido extraordinário. Isso tem gerado muitas oportunidades de negócios, mas também desdobramentos negativos ao meio ambiente. Atualmente, oito entre os dez maiores poluidores estão localizados nesta parte do mundo. Atualmente, a Ásia é responsável por quase 60% das emissões totais de gases de efeito-estufa no mundo e, dentre as dez nações mais poluentes, oito estão localizadas naquela região.
No geral, 12 países da Ásia, que respondem por 93% da população do continente, já têm ou estão considerando planos de introduzir o etanol. Entretanto, apenas três promovem uma política de mistura obrigatória; Índia (E5), Indonésia (E1) e Filipinas (E10).
E10 latino
Na América Latina, três razões fazem deste mercado um destino promissor para o biocombustível. São elas: emissões relevantes de GEEs, terra e água em abundância para a produção agrícola de matérias-primas usadas na fabricação de etanol e, por fim, a experiência brasileira de 40 anos neste segmento. Das 21 nações latinas, nove (excluindo o Brasil, que tem o E27) mantém programas voltados ao combustível renovável – Paraguai (E25), Argentina (E12), Colômbia (E8 ou E10), Costa Rica (E7), Equador (E10), Panamá (E10), Peru (E7,8), Uruguai (E10) e México (E2).
Neste rol, somente uruguaios e mexicanos não implantaram mandatos obrigatórios. Considerando a hipótese de que o E10 fosse padronizado em todos os países citados acima, acrescentando ainda Chile e Guatemala, seriam necessários 7,0 bilhões de litros do biocombustível para 70 bilhões de litros de gasolina consumidos ao ano, diz o estudo realizado por Diego Fileni.
E10 africano
Na África, onde residem 15% da população mundial, sete países possuem mistura exigida por lei - Angola (E10), Etiópia (E5), Malaui (E10), Moçambique (E10), África do Sul (E2), Sudão (E5) e Zimbábue (E15). O potencial de demanda de etanol caso o E10 fosse “universalizado” nestes mercados, implicaria misturar por ano um adicional pouco superior a 1,0 bilhão de litros de etanol em 13 bilhões de litros de gasolina. Outros mercados do continente, como o Quênia (E10 em apenas uma cidade, Kisumu), Ilhas Maurício, Nigéria e Zâmbia já estudam aplicar medidas de incentivos para o E5 ou E10.
Fonte: https://www.novacana.com/n/internacional/etanol/estudo-potencial-mercado-e10-planeta-211216/