Donald Trump selecionou um dos mais conhecidos “céticos do clima” para liderar sua equipe de transição na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). As informações foram dadas por duas fontes próximas à campanha de Trump, em setembro, ainda antes das eleições.
De acordo com as fontes, o escolhido é o diretor do Centro de Energia e Meio Ambiente do conservador Competitive Enterprise Institute, Myron Ebell.
O time de Trump também já recrutou os líderes para suas equipes do Departamento de Energia (DOE) e do Departamento de Interior. O lobista de energia republicano Mike McKenna irá dirigir a equipe do DOE, enquanto o ex-advogado do Departamento de Interior dos Estados Unidos, David Bernhardt, deve liderar os esforços do outro departamento, informaram as fontes.
Cabeça fria contra os alarmistas
Ebell é uma figura bem conhecida e polarizante da esfera de energia e meio ambiente. Sua participação na transição da EPA sinaliza que o time de Trump está buscando drásticas reformulações nas políticas climáticas que a agência perseguiu sob a administração de Obama. O papel de Ebell, provavelmente, deve enfurecer ambientalistas e democratas, mas animará os críticos ao regime climático de Obama.
Tendo sido apelidado de “nerd elegante” e “sabichão da política” pela revista Vanity Fair, Ebell é conhecido por seus textos prolíficos que questionam o que ele chama de “mudança climática alarmista”. Ele aparece frequentemente na mídia e no Congresso e também é o presidente da “Coalização dos Cabeças Mais Frias” (Cooler Heads Coalition, em tradução livre) – um grupo de organizações sem fins lucrativos que “questiona o alarmismo do aquecimento global e se opõe a políticas de racionamento de energia”.
Ebell parece saborear as críticas vindas da esquerda. Em um resumo biográfico de duas páginas, entregue para o congresso norte-americano, Ebell listou entre suas conquistas que foi listado no “Guia de Criminosos do Clima”, do Greenpeace; apelidado como “deturpador” do aquecimento global pela revista Rolling Stone; e que foi sujeito a uma moção de censura na Câmara dos Comuns Britânica após criticar os pontos de vista do principal conselheiro científico do Reino Unido sobre o aquecimento global.
Em 2007, ele disse à Vanity Fair: “Houve um pouco de aquecimento, mas ele tem sido muito modesto e bem dentro dos limites de variabilidade natural e, se ele é causado pelos seres-humanos ou não, não é nada para nos preocuparmos”.
Mais recentemente, Ebell chamou de ilegal o Plano de Energia Limpa da administração de Obama, destinado a gases do efeito estufa. Ele ainda disse a adesão do presidente ao acordo sobre o clima da conferência de Paris “é claramente uma usurpação inconstitucional da autoridade do Senado”.
As visões de Ebell parecem se alinhar com as de Trump quando se trata da agenda da EPA. Trump tem chamado o aquecimento global de “besteira” (bullshit, no original) e afirmou que iria “cancelar” o acordo de Paris sobre o aquecimento global, além de reverter ações executivas do Presidente Obama sobre alterações climáticas (conforme publicação da revista ClimateWire em 27 de maio).
Outros nomes da transição
Por sua vez, para liderar a equipe do Departamento de Energia de Trump, o partido republicano dos Estados Unidos contratou Mike McKenna.
O presidente da MWR Strategies é bem conhecido nos círculos de energia republicanos. Ele era diretor de políticas e relações exteriores do Departamento de Qualidade Ambiental do estado da Virgínia, sob a administração do então governador republicano George Allen e atuou como especialista em relações exteriores do Departamento de Energia durante o governo de George H. W. Bush (pai).
Entre seus clientes, para quem fez lobby em 2016, estão Koch Companies Public Sector, Southern Company Services, Dow Chemical e Competitive Power Ventures, de acordo com divulgações públicas.
Já dirigindo os esforços de transição do Departamento de Interior está David Bernhardt, co-presidente do Departamento de Recursos Naturais do escritório de advocacia de Brownstein Hyatt Farber Schreck.
Ele atuou como advogado do Departamento de Interior no governo de George W. Bush (filho), após a realização de vários outros trabalhos de alto escalão da mesma divisão.
Além dos líderes da equipe da EPA e dos Departamentos de Interior e Energia, o especialista em energia do partido republicano Mike Catanzaro também está trabalhando com política energética para a equipe de transição de Trump (conforme publicado pela Greenwire em 14 de setembro).
Durante a transição de Obama, em 2008, uma equipe relativamente pequena foi montada antes da eleição, a fim de traçar metas políticas gerais.
Após a eleição, a operação expandiu drasticamente e as equipes foram enviadas para trabalhar fora de de suas agências para recolher informações junto a funcionários políticos e de carreira, além de escrever rajadas de memorandos e compilar grossas pastas de inteligência para entregar à liderança responsável pela transição (Greenwire, 19 de agosto).
Com a vitória de Trump, Ebell, McKenna e Bernhard provavelmente liderarão esforços semelhantes para suas respectivas agências.
A campanha Trump não respondeu aos pedidos de comentário.
Fonte: https://www.novacana.com/n/etanol/politica/trump-cetico-clima-transicao-epa-101116/